Ato contra Ancine e ‘Lula livre’ marcam vitória de ‘Ferrugem’ em Gramado

Drama adolescente sobre bullying virtual, o filme “Ferrugem”, dirigido por Aly Muritiba, levou o prêmio de melhor longa-metragem nacional do júri do Festival de Gramado, na noite deste sábado (25).

A obra, que gira em torno dos desdobramentos da divulgação do vídeo íntimo de uma garota, também faturou Kikitos nas categorias melhor roteiro e melhor desenho de som. “Ferrugem” fez sua estreia mundial no começo do ano, Festival Sundance, a meca do cinema independente nos Estados Unidos. Irá entrar em cartaz no Brasil no próximo dia 30.

O baiano Muritiba, um ex-agente penitenciário, já dirigiu documentário sobre o tema prisional e lançou o drama “Para Minha Amada Morta” em 2015. O filme que venceu em Gramado é sua primeira incursão mais pop.

Já o drama familiar “Benzinho” foi o que levou o maior número de prêmios entre os longas nacionais. A história de uma mãe que lida com a angústia da separação de seu filho primogênito ganhou estatuetas de melhor filme segundo o voto popular, melhor filme segundo a crítica, melhor atriz (Karine Teles) e melhor atriz coadjuvante (Adriana Esteves).

Foi uma cerimônia marcada por atos contra a Agência Nacional de Cinema. Vários dos premiados, principalmente os curtas-metragistas, subiram ao palco portando uma camiseta com a inscrição ‘Ancine, eu existo’.

O protesto foi uma resposta às novas regras fixadas pelo órgão para conceder recursos públicos por meio do chamado edital de fluxo contínuo. Segundo as novas normas, produtores, distribuidores e cineastas são ranqueados num sistema de notas de acordo com o desempenho comercial e o número de obras lançadas.

Parte do setor não concorda com esse esquema de pontuação; curtas-metragens, por exemplo, não são contabilizados. A polêmica foi antecipada pela Folha.

Já Osmar Prado aproveitou seu prêmio de melhor ator por “10 Segundos para Vencer” para manifestar seu apoio ao ex-presidente Lula, “injustamente trancafiado na masmorra de Curitiba”, segundo disse. “Abaixo as conduções coercitivas, abaixo a tortura psicológica das delações”, afirmou ele, conhecido por ser entusiasta do PT.

O diretor Otto Guerra também pediu “Lula livre” ao receber a menção honrosa pela animação “A Cidade dos Piratas”.

Em sua 46a edição, o Festival de Gramado é uma das mais tradicionais mostras de cinema do país e ocorre todos os anos na cidade da serra gaúcha.

Entre os longas estrangeiros, o grande vencedor foi “Las Herederas”, do paraguaio Marcelo Martinessi, com cinco prêmios. A coprodução entre Paraguai, Brasil, Alemanha e França trata de uma mulher da burguesia decadente de Assunção que vê sua vida revirar do avesso após a prisão de sua companheira. Em fevereiro, a obra concorreu ao Urso de Ouro, no Festival de Berlim, e ganhou o prêmio de melhor atriz para Ana Brun.

Em Gramado, “Las Herederas” venceu como melhor longa estrangeiro, segundo o júri, segundo a crítica e segundo o voto popular. Também ganhou os prêmios de melhor atriz e melhor roteiro.

Veja a lista de vencedores do Festival de Gramado:

Longas brasileiros
Melhor filme: “Ferrugem”, de Aly Muritiba
Melhor filme do júri popular: “Benzinho”, de Gustavo Pizzi
Melhor direção: André Ristum, por “A Voz Do Silêncio”
Menção honrosa: “A Cidade Dos Piratas”, de Otto Guerra”
Melhor ator: Osmar Prado, por “10 Segundos Para Vencer”
Melhor atriz:  Karine Telles, por  “Benzinho”
Melhor ator coadjuvante: Ricardo Gelli, por “10 Segundos Para Vencer”
Melhor atriz coadjuvante: Adriana Esteves, por “Benzinho”
Melhor fotografia: Pablo Baião, por “Simonal”
Melhor roteiro: Jessica Candal e Aly Muritiba, por “Ferrugem”
Melhor desenho de som: Alexandre Rogoski, por “Ferrugem”
Melhor trilha: Max De Castro e Wilson Simoninha, por “Simonal”
Melhor direção de arte: Yurika Yamazaki, por “Simonal”
Melhor montagem: Gustavo Giani, por “A Voz Do Silêncio”

Longas estrangeiros
Melhor filme: “Las Herederas”, de Marcelo Martinessi
Melhor filme do júri popular: “Las Herederas”, de Marcelo Martinessi
Prêmio especial do júri: “Averno”, de Marcos Loayza
Melhor direção: Marcelo Martinessi, por “Las Herederas”
Melhor ator: Nestor Guzzini, por “Mi Mundial”
Melhor atriz: Ana Brum, Margarita Irun e Ana Ivanova, por “Las Herederas”
Melhor fotografia: Nelson Waisntein, por “Averno”
Melhor roteiro: Marcelo Martinessi, por “Las Herederas”

Prêmios da Crítica
Melhor filme em longa-metragem brasileiro: “Benzinho”
Melhor filme em longa-metragem estrangeiro: “Las Herederas”
Melhor filme em curta-metragem brasileiro:” Torre”

Curtas metragens
Melhor filme: “Guaxuma”, de Nara Normande
Melhor filme do júri popular: “Torre”, de Nádia Mangolini
Melhor direção: Fábio Rodrigo, por “Kairo”
Prêmio especial do júri: “Estamos todos aqui”, de Chico Santos e Rafael Mellim
Prêmio Canal Brasil de Curtas: “Nova Iorque”, de Leo Tabosa
Melhor ator: Manoel do Norte, por “A Retirada Para Um Coração Bruto”
Melhor atriz: Maria Tugira Cardoso, por “Catadora de Gente”
Melhor desenho de som: Fábio Carneiro Leão, por “Aquarela”
Melhor trilha musical: Manoel do Norte, por “A Retirada Para Um Coração Bruto”
Melhor direção de arte: Pedro Franz e Rafael Coutinho, por “Torre”
Melhor montagem: Thiago Kistenmacker, por “Aquarela”
Melhor fotografia: Beto Martins, por “Nova Iorque”
Melhor roteiro: Marco Antônio Pereira, por “A Retirada Para Um Coração Bruto”