Com programação inédita, Festival de Gramado quer apagar fama de frívolo

“O Grande Circo Místico” é o nome do filme que abre o Festival de Gramado, nesta sexta (17). Mas poderia também definir a pecha da qual a mostra gaúcha de cinema luta para se desvencilhar.

Os filmes deste ano, alguns endossados por eventos internacionais, são uma tentativa de limpar certo pendor pelo espetaculoso que já apelou até para trazer Xuxa e o elenco de “Malhação” para o tapete vermelho da serra gaúcha.

É por ali que passará Cacá Diegues, entre enormes Kikitos e suas cabeças de sol. Ele irá apresentar seu “O Grande Circo Místico” (o filme, não o festival). A obra, que fez parte da programação do Festival de Cannes, é um épico sobre cinco gerações de uma família à frente da lona.

Vincent Cassel, Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Mariana Ximenes e Juliano Cazarré estão no elenco da produção inspirada em poema de Jorge de Lima. Repleto de efeitos e canções, guarda uma atmosfera meio felliniana.

Em Cannes, Diegues afirmou à Folha que o longa é um “retorno ao barroco”, estilo que, segundo ele, “anda esquecido pelos filmes.”

Já na competição de longas brasileiros em Gramado, o que predomina é o realismo, tão típico da produção nacional atual.

“Benzinho”, de Gustavo Pizzi, e “Ferrugem”, de Aly Murutiba são dois títulos que estreiam no país após incursão em Sundance, a meca do cinema independente.

Karine Teles e Konstantinos Sarris em ‘Benzinho’ (Créditos: Bianca Aun/ Divulgação)

Pizzi envereda pelo dramédia familiar de Irene (Karine Teles), angustiada porque seu primogênito (Konstantinos Sarris) ganhou a chance de jogar handebol na Alemanha e irá sair de casa.

Já Muritiba incorre numa trama mais densa sobre uma adolescente que tem o seu vídeo íntimo vazado em redes sociais.

“Mormaço”, de Marina Meliande, é outro que sobe a serra gaúcha na esteira de um festival estrangeiro —Roterdã, no seu caso. Tendo as obras olímpicas no Rio como pano de fundo, acompanha a história de uma mulher que sofre mudanças no corpo à medida que também muda a cidade.

O filão das cinebiografias está representado por “Simonal” e “10 Segundos para Vencer”.

O primeiro, protagonizado por Fabrício Boliveira, rememora a trajetória do músico que enchia estádios e acabou escanteado pela “intelligentsia” ao se ver envolvido com a repressão na ditadura militar. Já o outro tem Daniel de Oliveira no papel do boxeador paulista Éder Jofre, que tinha fora dos seus ringues o seu maior oponente, o pai-treinador.

Entre os mais conhecidos do grande público, disputam Daniela Thomas (“Linha de Passe”, “Vazante”) e Jayme Monjardim (“Olga” e “O Tempo e o Vento”).

A diretora descreve seu “O Banquete” como a “a dinâmica erótica entre homens e mulheres que usam a sedução como moeda de troca”. A tal dinâmica é apresentada ao longo de um jantar
que reúne artistas e intelectuais.

Monjardim troca sua inclinação ao épico grandioso pelo intimista “O Avental Rosa”, sobre uma mulher que lida com pacientes em estado terminal.

A competição se completa com “A Voz do Silêncio”, drama de André Ristum com Marieta Severo no elenco, e “A Cidade dos Piratas”, animação de Otto Guerra.

Entre os cinco filmes da competição internacional, o destaque é “Las Herederas”, do paraguaio Marcelo Martinessi, que competiu no Festival de Berlim.