Sistema de ‘castas’ da imprensa gera campanha contra organização de Cannes

GUILHERME GENESTRETI

“Em Cannes as portas só se abrem para você se a sua credencial for a branca.”

A frase é repassada sempre que um jornalista novato começa a cobrir o famoso festival de cinema. É a chamada “divisão de castas” da cobertura, muito odiada por parte da imprensa especializada e pouco conhecida do público em geral.

Neste ano, o assunto promete esquentar. A mostra começou nesta terça (8).

Imagem da credencial branca de cobertura do Festival de Cannes (Guilherme Genestreti/Folhapress)

Como em cada uma de suas edições o Festival de Cannes recebe em torno de 4.000 jornalistas, a organização da mostra criou uma espécie de hierarquia entre os profissionais baseada na importância do veículo ou no prestígio do profissional.

As regalias mudam conforme a cor da credencial. Há cinco delas que variam conforme o tipo de veículo ou o prestígio do jornalista.

No topo da pirâmide fica a tal da credencial branca, que é entregue a veículos diários, como a Folha, e às mais importantes publicações especializadas, como a Variety e a Hollywood Reporter.

Com ela, o jornalista tem a possibilidade de usar uma fila menor para ir às salas de cinema, entrar antes do que os demais nas conferências de imprensa e participar de alguns encontros específicos promovidos pelo festival.

Estima-se que do total de 4.000 menos de 100 profissionais possam desfrutar dessa que é a melhor credencial.

Na base da pirâmide, há os que seriam os ‘párias’ desse sistema: em geral, freelancers e blogueiros, que recebem a temida credencial amarela.

Para eles, cobrir o Festival de Cannes é perrengue puro: significa ficar horas na fila debaixo do sol quente e não ter nem mesmo a certeza de que vai haver lugar no cinema, e ter de se contentar em assistir às coletivas de imprensa em televisões espalhadas, já que as salas sempre estarão lotadas.

Entre a branca e a amarela existem três outros tipos de credencial que vão diminuindo de importância: rosa com pastilha amarela; rosa; e azul. São melhores do que a amarela, mas não dão acesso ao que a branca dá.

Neste ano, os detentores da credencial amarela armaram uma campanha questionando esse sistema. Afirmam, em linhas gerais, que o festival detém muitas salas de cinema ociosas que poderiam ser usadas para dar lugar a todos os jornalistas.

A campanha virou uma petição na internet, que tem um vídeo bem detalhado sobre como funciona a cobertura de Cannes. A organização do festival ainda não se manifestou se vai alterar o sistema.

Veja a seguir:

O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do festival