‘Não estrague a festa’, dizem avisos contra assédio sexual em Cannes
“Ne gâchons pas la fête” lê-se em papéis que estão sendo distribuídos aos montes pelas ruas de Cannes na véspera da abertura da mostra de cinema. “Não estrague a festa” é a tradução da mensagem que aparece junto à foto de uma gravata borboleta –o emblema do traje masculino por excelência do festival.
Não é para menos. Por essas mesmas ruas da cidade no sul da França, o outrora poderoso produtor Harvey Weinstein circulava à procura de prostitutas, segundo seus motoristas locais, e assediava atrizes, segundo acusações.
Diretor artístico do festival, o francês Thierry Frémaux convocou uma conversa com a imprensa de última hora, na tarde desta segunda (7), para comentar os assuntos que têm gerado algazarra: não apenas o combate ao assédio, mas também a rixa com a Netflix e o perdão a Von Trier.
A mostra francesa de cinema começa nesta terça (8).
“Temos um time por trás de uma linha telefônica e de um e-email criado para coletar informações sobre assédio”, disse Frémaux. “Não foi só Cannes que mudou após o escândalo Weinstein, mas o mundo inteiro.”
Entre os eventos que estão programados para ocorrer na esteira dos movimentos MeToo e Time’sUp estão uma marcha de mulheres sobre o tapete vermelho, marcada para o sábado (12), além de painéis com organizações feministas e as ministras da Cultura da França e da Suécia.
Um dos assuntos mais debatidos –o retorno de Lars Von Trier ao evento—foi rapidamente abordado. “Ele foi punido e decidiu-se que sua punição já durou tempo suficiente, e era hora de trazê-lo de volta como artista”, disse Frémaux.
Em 2011, enquanto apresentava “Melancolia”, o cineasta dinamarquês afirmou que podia “compreender” Hitler. Ele foi logo declarado ‘persona non grata’ e banido de Cannes. Neste ano ele volta, ainda que fora da competição, com uma obra que promete ser das mais violentas de sua carreira, “The House that Jack Built”, história de um serial killer.
“Ele fez piadas com assuntos sobre os quais não se poderia brincar”, disse o diretor artístico. “Mas ele não é antissemita, ele não é nazista.”
Frémaux também não escapou de responder sobre a rixa com a Netflix. O festival tentou fazer com que o serviço de streaming se comprometesse a exibir seus filmes nos cinemas franceses caso eles fossem selecionados para Cannes. A empresa americana não aceitou, e ambos romperam.
“Deveríamos ter sido mais diplomáticos”, afirmou.