Premiados em Berlim, cineastas brasileiros criticam Temer
O Brasil saiu bastante premiado na atual edição do Festival de Berlim, levando alguns dos principais prêmios dos júris independentes da mostra. Em uníssono, todos os diretores brasileiros premiados aproveitaram a ocasião, na manhã deste sábado (24), para tecer críticas a Temer e à situação política.
O documentário “Aeroporto Central”, do cearense Karim Aïnouz, venceu o prêmio concedido pela Anistia Internacional como melhor filme do Festival de Berlim a abordar o tema dos direitos humanos. A obra acompanha a rotina de refugiados abrigados num aeroporto desativado no centro da capital alemã.
Ladeado por dois dos refugiados mostrados no longa, Aïnouz aceitou o prêmio dizendo que “muito embora tratasse da Síria”, ele se sentia na obrigação de “falar do Brasil”.
O diretor leu um texto curto dizendo atacando o “golpe legislativo contra a primeira mulher eleita presidente”, o “Judiciário que condena sem provas” e o “maior ataque aos direitos trabalhistas”. “Isso provocou o aumento da violência e da miséria no nosso país”, disse Aïnouz.
A equipe do filme gaúcho “Tinta Bruta” também aproveitou a premiação para protestar. “Espero que em breve a nossa democracia seja restabelecida”, disse Marcio Reolon, um dos dois diretores da obra, que levou o prêmio Cinema de Arte da Cicae, confederação que reúne exibidores de filmes artísticos.
“Tinta Bruta” fala de um jovem que se pinta com tinta fluorescente no escuro de seu quarto e dança pintado para anônimos da internet. O ator principal do filme, Shico Menegat aproveitou o prêmio da Cicae para dizer que esperava ver o Brasil “recuperar suas cores” e apoiar a comunidade LGBT, retratada na obra.
Na sexta (23), por sinal, a obra já havia vencido como melhor longa de ficção no Teddy, prêmio dedicado a filmes com temática “queer” do Festival de Berlim. Nessa mesma premiação, o também brasileiro “Bixa Travesty”, que acompanha as divagações da cantora travesti paulista Linn da Quebrada, rendeu aos diretores Kiko Goifman e Claudia Priscilla o troféu de melhor documentário.
Coprodução com o Brasil, “Las Herederas”, do paraguaio Marcelo Martinessi, ganhou o prêmio da crítica entre os filmes da competição.
Já “O Processo”, filme da brasiliense Maria Augusta Ramos que acompanha o processo de impeachment de Dilma Rousseff, ficou em terceiro lugar na escolha do público como o melhor documentário da seção Panorama do festival.
Na noite deste sábado (24), ainda serão conhecidos os vencedores do prêmio do júri internacional, incluindo o Urso de Ouro.
Veja a lista dos principais vencedores dos prêmios do júri independente:
– Prêmio do júri ecumênico para a competição: “In The Aisles”, de Thomas Stuber, com menção especial a “Utøya 22. Juli”, de Erik Poppe
– Prêmio do júri ecumênico para a mostra Panorama: “Styx”, de Wolfgang Fischer
– Prêmio do júri ecumênico para a mostra Forum: “Teatro de Guerra”, de Lola Arias
– Prêmio da crítica para a competição: “Las Herederas”, de Marcelo Martinessi (coprodução com o Brasil)
– Prêmio do júri ecumênico para a mostra Panorama: “River’s Edge”, de Isao Yukisada
– Prêmio do júri ecumênico para a mostra Forum: “An Elephant Sitting Still”, de Hu Bo
– Prêmio da Cicae para a mostra Panorama: “Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (Brasil)
– Prêmio da Cicae para a mostra Forum: “Teatro de Guerra”, de Lola Arias
– Prêmio da Anistia Internacional: “Aeroporto Central”, de Karim Aïnouz (Brasil)
– Prêmio Teddy de melhor filme de ficção: “”Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (Brasil)
– Prêmio Teddy de melhor documentário: “Bixa Travesty”, de Kiko Goifman e Claudia Priscilla (Brasil)
Na imagem do alto, os diretores Filipe Matzenbacher e Marcio Reolon, diretores de ‘Tinta Bruta’ (Créditos: Divulgação)
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