Para promover filme, diretor estaciona trailer motorizado em Berlim

GUILHERME GENESTRETI

A poucos metros de onde um lance para comprar uma obra audiovisual pode chegar à casa do milhão, um singelo trailer motorizado, desses comuns em filme americano, implora por atenção. Ali próximo, um pôster imita as mensagens do indicado ao Oscar “Três Anúncios para um Crime”: “Como pode você não ter visto nosso filme ainda?”.

Festivais de cinema como o de Berlim são essencialmente grandes feiras para a comercialização de filmes entre os países, e o diretor austríaco Hans Weingartner achou uma ideia original para atrair compradores a “303”, “road movie” que ele exibe na mostra: estacionou o próprio trailer que aparece no filme ao lado do prédio que sedia o mercado de longas, na capital alemã.

“Quando é que você teria a chance de entrar no set principal de um filme?”, indaga o diretor à reportagem. Em horários pré-estabelecidos, curiosos podiam ter a chance de entrar dentro do veículo, que conservava a mesma arrumação vista no filme: as camas com os lençóis, fotos dos personagens da trama nos armários…

Na história de “303”, que participa de uma seção paralela à competição principal do festival, dois estudantes berlinenses resolvem cair na estrada rumo à ensolarada Lisboa a bordo de um velho trailer modelo Hymer 303.

Weingartner, 47, afirma que queria achar uma forma diferente de atrair a atenção de distribuidores internacionais para o filme. “E esse veículo tem um papel grande na trama”, diz

O diretor Hans Weingartner acena em frente do trailer que usa para atrair atenção a seu filme (Créditos: Divulgação)

“Quando não se tem dinheiro, é preciso ser criativo”, diz o diretor, que mora em Berlim. “Eu sabia que esta vaga é pública e que as pessoas que participam do mercado são obrigadas a passar por aqui no caminho para a sede do festival.”

O próprio diretor desembolsou pouco mais de US$ 6.000 pelo veículo com mais de 30 anos de uso, e gastou outros US$ 18.000 para deixá-lo pronto para o filme. Durante boa parte do festival, ele se prostrou ao lado do trailer, na calçada, tendo a seu lado uma garrafa de café que ele esquentava num forno a gás ali dentro.

E deu para comercializar o filme? Ele responde que sim. Embora o Brasil não esteja entre os que se interessaram, Japão e China, por exemplo compraram. “É porque é um bom filme”, justifica o diretor. “E acho que os compradores amaram o charme do nosso ‘ônibus mágico’.”

Na foto no alto, a atriz Mala Emde, que participa do filme, na frente do trailer de “303” (Créditos: Divulgação)