Gêmeos sanguinolentos dividem a crítica em Berlim

GUILHERME GENESTRETI

Apesar do título bem-humorado, o alemão “Mein Bruder Heißt Robert und Ist ein Idiot” (meu irmão se chama Robert e é um idiota) é um thriller psicológico violento que evoca Heidegger, amadurecimento sexual e muitos dos clichês de perversidade que o cinema geralmente associa aos irmãos gêmeos.

A obra de duas horas e meia dirigida por Philip Gröning dividiu o público e colheu vaias em sua sessão para a imprensa, na manhã desta quarta (21), enfraquecendo o poder de fogo dos alemães para levar o Urso de Ouro –o conterrâneo “Transit”, de Christian Petzold, continua bem no páreo, contudo.

Em “Mein Bruder”, Robert e Elena são dois irmãos gêmeos no final da adolescência que vivem uma relação simbiótica, algo incestuosa.

Ela tem ciúmes do irmão beberrão. Ele ajuda a garota a estudar para seus exames finais de filosofia, o que serve de pretexto para que divaguem sobre existencialismo na perspectiva de Heidegger enquanto rolam na relva do verão na Baviera.

Há ali perto um posto às moscas, com uma loja de conveniência. Eles batem uma aposta. E o filme deixa de lado as ruminações filosóficas dos adolescentes para entrar num terreno violento, sanguinolento.

“Eles têm o próprio tempo ‘gêmeo’ deles”, disse Gröning em conversa com a imprensa após a sessão. “E eu queria falar de como o tempo é uma sensação individual e para em determinados momentos.”

Ele também comentou a respeito da irrupção repentina da violência no longa. “Violência não se explica nem se justifica. Odeio filmes que justificam psicologicamente por que certos personagens fazem algo. Não é o que acontece e não é o que eu queria.”

IRANIANO TRASH

Também não foi muito bem recebida pela imprensa a comédia trash iraniana “Pig”, apesar de sua latente mensagem sobre a condição de perseguidos políticos de diretores de cinema no país.

Na trama metalinguística dirigida por Mani Haghighi, uma onda de assassinatos acomete cineastas locais. Mas poupa o narcisista Hasan, que se julga o maior de todos em seu ofício e, portanto, fica inconformado por não estar na mira.

“Acho que o riso e a ironia são a melhor forma de abordar um assunto trágico”, disse Haghighi à imprensa, embora sem entrar no mérito de eventuais mensagens cifradas. “A distância crítica é fundamental para manter a sanidade.”

O filme deve estrear no mês que vem no Irã, sob o risco constante de ter de ser exibido com alterações por ordem do governo. “Claro que a situação lá é volátil, mas agora não houve pressão alguma para eu mudar nada no filme.”

No alto, cena do filme “Mein Bruder Heißt Robert und Ist ein Idiot” (Créditos: Divulgação)

Leia mais sobre o Festival de Berlim aqui