Acusado de assédio, coreano põe Festival de Berlim em saia justa

Primeira das grandes mostras europeias a ocorrer após o #MeToo, o Festival de Berlim se vê numa saia mais do que justa com o fato de ter escalado o cineasta sul-coreano Kim Ki-duk para a edição deste ano.

Vencedor do Leão de Ouro, em Veneza, por “Pieta” (2012), o diretor foi condenado na Justiça de seu país a pagar US$ 4,6 milhões por ter cometido abusos físicos contra uma atriz de “Moebius” (2013). Ele também foi acusado de assédio sexual, mas a acusação não foi acolhida.

A questão veio à tona já na primeira pergunta ao diretor em Berlim, onde ele apresenta seu recente “Human, Space, Time and Human”, durante conversa com a imprensa.

“De fato, há um caso lamentável que aconteceu há quatro anos. Já me expliquei à Justiça. O promotor achou que foi problemático eu estapear uma atriz”, disse. “Estávamos ensaiando uma cena.”

O filme que Kim está promovendo na Berlinale também dá brecha para problematizações. A obra, violenta, fala de canibalismo, luta por sobrevivência e  estupro coletivo.

Apesar da resposta do diretor, quem sai mais chamuscado é o próprio festival, que neste ano abraçou a causa do #MeToo por meio de painéis sobre o tema. A atriz que acusou Kim, e não revela seu nome, disse que a decisão de escalá-lo foi “hipócrita”.

A resposta oficial da mostra alemã é a de que ela se trata de uma plataforma para o debate, algo que ecoa a fala do diretor Tom Tykwer, presidente do júri da competição neste ano. Segundo ele, as conversas em torno do debate deveriam se aprofundar para além das acusações individuais.

Acima, o diretor Kim Ki-duk (ao centro) em Veneza, em 2012 (Créditos: Associated Press/IMDb)

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O jornalista GUILHERME GENESTRETI se hospeda a convite do festival