Santoro está em filme sobre poeta beberrão, exibido no Festival do Rio

GUILHERME GENESTRETI

O americano Steven Bernstein soma mais de 50 trabalhos em 30 anos de carreira no cinema, principalmente como diretor de fotografia, mas não conseguia conter o nervosismo antes da sessão para o público de “Dominion”, que fez sua estreia mundial na noite de sexta (7), no Festival do Rio.

Bernstein se remexia no sofá, implorava por opiniões sinceras de quem havia visto o longa na sessão de imprensa, horas antes, e abraçava quem elogiava esse seu segundo trabalho como diretor. “É que agora é como se toda a minha carreira fosse avaliada”, justificou à Folha.

“Foram anos fazendo, passei por oito momentos em que achei que o filme nunca fosse ficar pronto. E, então, finalmente, Rodrigo me disse: ‘traz logo esse negócio para o Rio’.”

Rodrigo é o ator fluminense Rodrigo Santoro, que está no elenco de “Dominion”, filme             eu resgata as últimas horas de vida do poeta galês Dylan Thomas (1914-1953), morto por alcoolismo. “Sabe, não é como se eu estivesse lançando ‘Os Vingadores’”, comenta Bernstein. “É um filme sobre poesia, e em boa parte em preto e branco. Imagine a minha apreensão.”

Santoro faz Carlos, o bartender latino que abastece o protagonista com mais de 15 doses de uísque, enquanto o poeta, vivido pelo britânico Rhys Ifans, divaga sobre o miserê de sua vida.

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Rhys Ifans vive Dylan Thomas em ‘Dominion’ (Créditos: Divulgação)

No Brasil, Dylan Thomas talvez seja mais conhecido por seu poema mais famoso, feito no leito de morte do pai (“Do not go gentle into that good night”) e por ter sido aquele de quem Bob Dylan tomou emprestado o nome artístico. Mas nos países de língua inglesa, ele tem importância central.

“Dominion” o retrata como uma espécie de poeta pop star, ao menos, foi assim que ele foi recebido em sua última turnê, recitando suas estrofes para plateias universitárias extasiadas. Mas o mesmo literato que declamava de maneira inflamada versos extremamente plásticos sobre ondas violentas e tempestades nos campos era um melancólico pai de família que se agarrava ao álcool com o mesmo fervor com que seduzia suas plateias.

Bernstein lança uma sacada interessante para abordar a relação autodestrutiva –e existencial—entre Thomas e o álcool. Ele vai nomeando cada uma das doses duplas de uísque que lhe vão sendo servidas em seu dia derradeiro: esperança, obstinação, bravata –como se elas recontassem os passos de sua vida.

“Ele lembra, sonha. O mundo para ele é caótico, então precisa ordenar as coisas, as nomeia”, diz o diretor, que deixa bem clara a sua longa trajetória na direção de fotografia nos planos rigorosamente enquadrados do filme. John Malkovich, que ajudou a produzir o filme, também está no elenco, no papel de um médico cético.

O bartender Carlos, que no início do filme parecia só um confidente da bebedeira, aos poucos se revela muito mais astuto, um oponente.

“Ele representa a nova literatura que vinha surgindo naquele momento”, explica Santoro. “Representa a literatura dos beatniks, que falavam de questões mais sociais do que a geração do Dylan Thomas.”

O brasileiro disse que foi pego de surpresa com o convite para fazer o filme. “Fui chamado duas semanas antes de começaram as filmagens”, diz o ator, que se enfurnou na obra de poetas como Yeats, Keats e Eliot.

No ar na série “Westworld”, Santoro disse que tem gostado do cronograma de filmar seriados. “Não toma tanto tempo como novela nem atrapalha a agenda como filme. Dá para se programar mais para os projetos.”

“Dominion” tem sessões no sábado (8), às 19h20, no Reserva Cultural Niterói; na quinta (13), às 19h20, no Kinoplex São Luiz, e na segunda (17), {as 17h15, no Roxy.

O jornalista viajou a convite do Festival do Rio