Ficção científica ‘sentimental’ abre Festival do Rio em noite despolitizada

GUILHERME GENESTRETI

O começo parece anunciar um “Independence Day”: gigantescas naves estacionam em diversos pontos do globo. Parecem ameaçadoras. Conforme a narrativa avança, contudo, vão se encontrando ecos de “Interestelar”: a discussão sobre o tempo cíclico, a importância dos laços familiares.

“A Chegada”, blockbuster de Denis Villeneuve que abriu a 18ª edição do Festival do Rio, na noite desta quinta (6), se filia à onda de filmes sci-fi que têm usado as elucubrações científicas, típicas do gênero, a serviço de uma verve mais ‘sentimentaloide’.

As imagens plácidas, com um quê de Terrence Malick, só reforçam essa etiqueta ao filme de Villeneuve. Na trama, uma linguista vivida por Amy Adams é convocada a decifrar a comunicação dos recém-chegados alienígenas para entender os motivos de sua vinda. A mensagem do filme é clara: adquirir uma nova linguagem consegue mudar a concepção das pessoas, o que, como se verá, vai mudar a forma da personagem lidar com suas questões pessoais.

O filme teve sua estreia no último Festival de Veneza, em setembro, de onde saiu como uma promessa de uma nova indicação ao Oscar para Adams: uma das maiores azaronas de Hollywood, ela já concorreu cinco vezes e nunca levou a estatueta.

À Folha, Ilda Santiago, diretor do festival carioca, justificou a escolha de “A Visita” para abrir o evento: “É um filme grande, hollywoodiano, mas vindo de um diretor que tem lastro no cinema de arte”.

O canadense Villeneuve é diretor de “Incêndios” e “Sicário”. Ausente no festival, ele enviou um vídeo para apresentar o seu filme, declarando-se fã de “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (1977), de Spielberg.

Sem ‘Fora, Temer’

Na cerimônia de abertura, Ilda afirmou que é um filme “perfeito para a grandiosidade” do local em que foi exibido: a Cidade das Artes, monstro de concreto armado inaugurado há três anos na Barra da Tijuca.

Tradicionalmente, a mostra abre no Cine Odeon, no centro da cidade. A escolha da Barra, segundo Ilda, é um aceno a esse novo Rio, remodelado pelos Jogos, que tiveram na zona oeste da capital fluminense o seu principal palco.

Aberta ao público pela primeira vez, a cerimônia também foi marcada pelo tom apolítico, ao contrário do que tem se sucedido em festivais cinematográficos país afora desde que Michel Temer assumiu a Presidência.

As organizadoras do festival não abordaram a situação política, salvo um breve agradecimento feito por Valquíria Barbosa ao prefeito Eduardo Paes (PMDB). A própria escolha de um filme estrangeiro para abrir também acabou minando a possibilidade de que um cineasta brasileiro fizesse um discurso mais politizado.

O festival prossegue por mais dez dias, exibindo cerca de 260 títulos nacionais e estrangeiros.

O jornalista viajou a convite do Festival do Rio