Em seu primeiro filme, Kleber Mendonça Filho põe a crítica no divã

GUILHERME GENESTRETI

Aproveitando o frisson em torno de “Aquarius”, que estreou na última quinta (1º), o primeiro longa dirigido por Kleber Mendonça Filho, “Crítico”, foi lançado em plataformas sob demanda.

Trata-se de um documentário que estreou originalmente em 2008 e que levou 10 anos para ser feito. No filme, Kleber faz uma grande reflexão sobre o trabalho a crítica cinematográfica e a forma como ela é recebida pelos realizadores.

O diretor iniciou sua carreira como crítico de cinema, primeiro no recifense “Jornal do Commercio”, depois no próprio site, e já cobriu festivais internacionais.

Nessas mostras, ele arrancou declarações de diretores como Carlos Saura, Gus Van Sant, Walter Salles e Fernando Meirelles, e também de críticos e repórteres da área.

“Ele foi amplamente ignorado, me ensinou muito sobre rejeição”, brinca o diretor sobre a recepção de seu filme de estreia. “Ninguém queria ver o filme.”

A realização de “Crítico” recebeu grande impulso de Emilie Lesclaux, produtora dos filmes de Kleber e com quem ele é casado. “Contei a ela que tinha começado obsessivamente a fazer essas entrevistas. E ela me convenceu a transformar isso em filme.”

Vão parar no bojo de “Crítico” as lamúrias específicas da área, como o tempo exíguo com que o crítico dispõe para resenhar um filme e a promiscuidade com os estúdios, que tendem a tratar a imprensa como ferramenta de marketing.

Também há espaço para farpas a repórteres: num trecho, um jornalista faz uma pergunta ao ator Samuel L. Jackson achando tratar-se de Laurence Fishburne. Jackson faz piada e o público cai na gargalhada.

“É possível amar o cinema e fazer cinema de diferentes maneiras: como crítico, diretor… Tudo é fantástico”, diz Kleber.

O trabalho como realizador, contudo, o tirou das críticas.

“Quando se vira um cineasta, tem que parar de fazer críticas. Como se faz uma crítica do filme de um colega? Vira uma pantomima. Até as positivas ficam desconfortáveis. As negativas, mais ainda.”

O filme está disponível no iTunes (por US$ 2,99, a compra) e no Now (por R$ 5,90, a locação).

Veja o trailer: