Filme com Jesuíta Barbosa sequestrador provoca debate polêmico em Tiradentes

GUILHERME GENESTRETI

Diário de Tiradentes, dia 2.

Conhecida pelos debates acalorados, a 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes finalmente ganhou temperatura na manhã desta segunda (25) após a exibição de “Jonas”, de Lô Politi.

A tônica da polêmica foi o personagem-título, interpretado por Jesuíta Barbosa no filme: um jovem que sequestra a filha da patroa de sua mãe, uma empregada doméstica, e a mantém refém no interior de um carro alegórico, uma gigante baleia azul.

Jonas é apaixonado por Branca (Laura Neiva), a garota sequestrada, mas sabe que não pertence ao universo dela –o da parte rica do bairro paulistano da Vila Madalena; ele mora na parte pobre. Também não faz muito parte de sua classe social no filme: odeia Carnaval enquanto todos os outros se preparam para o desfile da escola Pérola Negra, é um branco entre negros.

Não pertence a lugar algum. Aí, qual o Jonas bíblico que se rebela contra os desígnios divinos, o protagonista se insurge contra o determinismo social e comete o ato extremo: o sequestro.

É Carnaval, época de suspensão da realidade em todos os sentidos –e também de todos os parâmetros de Jonas, reinando só num estacionamento de carros alegóricos e mantendo a garota cativa dentro do cetáceo purpurinado.

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Jesuíta Barbosa vive um jovem sequestrador em “Jonas”, de Lô Politi

O debate, que contou com a diretora e o ator, transcorreu com alguma tranquilidade até que o público assumiu as perguntas à equipe do longa. Alguns observaram que a trilha sonora incrementava a empatia com o personagem e que o horror (o cometimento dos crimes no filme) era ocultado de cena –em suma, que a realizadora supostamente aliviava a barra de Jonas.

Outros apontaram que a trama, um caso de abuso, era tratada de forma romanceada.

Lô Politi se defendeu: “O que me interessava era a história entre os dois personagens, que tinham uma intimidade de anos. Branca confia em Jonas, mas a todo momento mantém o poder da situação”.

Teve até quem questionasse o apoio da Record ao filme, a representação de uma das personagens negras (interpretada por Karol Conka), mas o público estava dividido e o bate-boca logo descambou para a própria plateia. Alguém arrematou: “Esse filme não devia estar na programação de Tiradentes”.

Tiradentes, contudo, é isso mesmo.

“Jonas”, que foi exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo no ano passado, deve entrar em circuito comercial ainda neste semestre.


O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes