‘Fica uma lacuna imensa’, diz Othon Bastos sobre Yoná Magalhães

GUILHERME GENESTRETI

A atriz carioca Yoná Magalhães, que morreu na manhã desta terça (20), aos 80, talvez seja mais famosa por sua participação na televisão: fez parte do primeiro elenco fixo da Rede Globo e atuou em dezenas de novelas, incluindo a clássica “Roque Santeiro” (1985), na qual interpretou Matilde, a dona de boate que chocava o puritanismo das  beatas de Asa Branca.

Yoná também firmou seu nome na história do cinema brasileiro. Ainda que sua participação na área tenha sido muito tímida se comparada ao que ela realizou na televisão, a atriz esteve presente em papel central de uma das maiores obras cinematográficas feitas no país: “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha.

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Othon Bastos e Yoná Magalhães em cena de ‘Deus e o Diabo’

No longa, marco do cinema novo, Yoná faz o papel de Rosa, mulher que foge com o marido pelo sertão após ele ter assassinado um coronel. No filme de Glauber, ela contracena com Othon Bastos, que interpreta o cangaceiro Corisco.

Leia depoimento que o ator Othon Bastos deu ao Sem Legenda:

“Eu estava começando a tomar café quando vi a notícia. [O teólogo dominicano e filósofo] Mestre Eckhart tem uma frase que eu gosto muito: ‘na Criação não há nada mais parecido com Deus do que o silêncio.’ Quando se recebe uma notícia dessas, a única coisa a fazer é ficar em silêncio. A Yoná foi o que ela sempre quis ser: uma grande atriz. Nos conhecemos quando éramos jovens, quando contracenamos em ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’ [dirigido por Glauber Rocha em 1964]. Faz 51 anos que nos conhecemos e ficamos amigos. Aí fizemos juntos as novelas “Os Imigrantes” e “Roque Santeiro”. Tem uma coisa na minha área que é a seguinte: depois que fazemos um trabalho, ficamos anos sem nos ver, aí nos reencontramos nos corredores e a amizade volta, como se tivéssemos deixado de nos ver no dia anterior. Com ela, a amizade vai além da vida. Fica uma saudade imensa, uma lacuna. Mas a vida é assim mesmo: uma grande viagem, não um destino.”

A cena em que os dois se abraçam e se beijam em “Deus e o Diabo”, ao som de Villa-Lobos, é antológica:

Em tempo: Yoná foi uma das mulheres mais velhas a estamparem a capa da “Playboy” brasileira, aos 50 anos, em 1986, embalada pelo sucesso de sua personagem em “Roque Santeiro”.  A atitude despertou críticas por causa da idade da atriz –polêmica que faria inveja à personagem Matilde, também ela um safanão nos conservadores.