Diretora brasileira quer rodar filme sobre rescaldo do terremoto no Haiti

GUILHERME GENESTRETI

Em janeiro de 2010, pouco depois de um terremoto ceifar a vida de 100 mil haitianos (na estimativa mais conservadora), a documentarista catarinense Juliana Sakae acordou com um punhado de mensagens e ligações perdidas no celular.

Jornalistas a procuravam para saber do paradeiro das nove crianças e adolescentes haitianos que ela havia retratado no média-metragem “Bleu et Rouge” (azul e vermelho), rodado no ano anterior na comunidade de Torbeck, a 120 quilômetros da capital, Porto Príncipe.

“Foram dias de apreensão, sem contato com o Haiti”, conta a documentarista de 30 anos ao Sem Legenda. “Três delas foram machucadas por escombros, mas estavam bem. Só que todas, sem exceção, tiveram alguém muito próximo que morreu.”

Cinco anos após lançar o documentário, que arrecadou R$ 30 mil para sobreviventes do sismo, a diretora pretende voltar ao Haiti para acompanhar a trajetória dos garotos.

“A ideia é mostrar como o crescimento deles foi marcado por uma tragédia tão gigante quanto o terremoto.” Três deles chegaram à graduação, mas com muito esforço: “Como muitas das pessoas que morreram eram provedoras de suas famílias, o que houve foi que muitos deles não voltaram a estudar.”

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Cena do documentário “Bleu et Rouge”, de Juliana Sakae, rodado no Haiti

Em “Bleu et Rouge”, os jovens tomavam a dianteira e, munidos de câmera, se propõem a conversar com gente local para apresentar a cultura haitiana. “Tudo o que se faz no Brasil se faz no Haiti. Apenas que o Brasil é um pouco melhor que o Haiti”, diz uma das meninas.

“Saí do Haiti quase sem esperança, ainda mais depois do terremoto”, conta Juliana. “Não sei se eles têm em mente que a dificuldade que vivem é circunstancial, culpa do terremoto, e que pode ser contornada.”

Se no filme anterior, a verba arrecadada foi destinada a amparar os sobreviventes, a diretora espera que com o novo documentário, um longa-metragem, seja possível angariar recursos para a construção de uma escola na comunidade.

A própria busca por voluntários para construir e tocar a escola será objeto do filme. Juliana, que hoje mora em Los Angeles e já rodou o curta documental “Antigirl” (sobre a cena do grafite na cidade californiana), espera conseguir parte do apoio para rodar esse seu próximo filme no Haiti via crowdfunding.