Diretor de ‘Estômago’ volta ao humor negro em suspense com Lázaro Ramos
O diretor Marcos Jorge despontou logo em sua estreia na direção de uma ficção com o cult “Estômago”. O filme tem João Miguel no papel de um cozinheiro que usa seu talento culinário para sobreviver em meio a criminosos e toda a sorte de encrenqueiros.
Nos filmes seguintes, “Corpos Celestes” (2009) e “O Duelo” (2015), o diretor enveredou por uma linha um pouco mais delicada. Mas é com “Mundo Cão” que ele volta aos personagens duros.
Na trama, Lázaro Ramos vive um ex-policial com nítido desequilíbrio emocional que promete se vingar do pacato funcionário público (Babu Santana) que recolheu e sacrificou seu cachorro. O filme entra em circuito em março, mas está sendo exibido durante o Festival do Rio. Confira aqui os horários.
Leia entrevista com o diretor e veja uma das cenas do novo filme.
Sem Legenda – Em seu novo filme, você resolveu retornar ao universo de personagens mais duros, certo?
Marcos Jorge – Duro é a palavra certa. É um thriller sobre a violência, mas a proposta é não ser violento, é falar da barbárie que assola o país sem chocar com cenas violentas. É duro, forte, mas não quero agredir o público
Como retratar essa violência sem ser violento?
Eu utilizo os cães para falar de violência. O filme tem muito cachorro e demos créditos a todos eles. Tratamos os personagens caninos como personagens que são os espelhos dos donos. Numa das cenas, um dos personagens diz que quem estraga o bicho é o dono. É o que eu queria mostrar e o que me permitiu tratar da agressividade sem ser violento.
O universo lembra um pouco o clima mais sombrio de “Estômago”. Você quis retomar aquele universo?
“Mundo Cão” tem pontos de contato com “Estômago”. Até porque escrevi com o mesmo roteirista. Tem aquela graça, aquela mistra de gêneros, tons de comédia, humor negro. Mas tem muitas diferenças: é sobre cachorro, e não sobre comida. A frase do filme é: a vingança é um prato indigesto. É um filme sobre falta de justiça e sobre vingança.
O gênero é diferente dos seus dois filmes anteriores.
O filme é um thriller com pitadas de comédia e ação. É uma aposta minha no suspense, que é um gênero no qual podemos competir com o cinema americano. A gente sempre concorre com eles na comédia, mas não em outros gêneros em que também poderíamos. O caminho do cinema brasileiro tinha ser esse. O cinema tem de ser autossustentável. E o suspense é um gênero comercial.