Festival de Curtas esmiúça afetos turbulentos da geração Y

GUILHERME GENESTRETI

A geração Y anda à flor da pele e quer escarafunchar seus afetos no cinema. Histórias de amores brutos, amores complicados, amores não correspondidos e da busca por amor próprio rodadas por diretores entre 25 e 35 anos inundam a atual edição do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo. O evento começou nesta quinta (20).

São tantas as obras que esbarram em turbulências sentimentais que a mostra criou uma sessão especificamente voltada a esses filmes, sete no total –cinco de realizadores entre os vinte e tantos e trinta e poucos anos, incluindo três brasileiros.

“A Vida do Fósforo Não É Bolinho, Gatinho”, de Sergio Silva, 34, mergulha numa história de amor extremo. Marcos (Dan Nakagawa) se apaixona intensamente por Robert (Eduardo Gomes) quando o hospeda em sua casa. Robert é estrangeiro, mas a sensação de deslocamento quem tem é o nativo Marcos, que sofre pelo rapaz, se derrama em ataques epiléticos.

Cena do filme “A Vida do Fósforo Não É Bolinho, Gatinho”. Créditos: Divulgação

“É basicamente um filme sobre gente que se apaixona demais e se perde. E o natural de quem sofre por amor é não se sentir confortável em nenhum lugar, estar perdido dentro da própria casa”, diz o diretor, cujo curta é ligado às produções do Filmes do Caixote, coletivo cinematográfico responsável por “Quando Eu Era Vivo” (2014) e “O Que se Move” (2013).

De outro tipo de afeto trata “Copyleft”, do mineiro Rodrigo Carneiro, 31. Aqui, o tema se volta ao apreço pelo próprio corpo. Um jovem que não se vê encaixado na dualidade dos padrões masculino/feminino se afunda em angústia existencial –tudo ao som de uma voz que parece ecoar de sua mente e discursa sobre machismo e homofobia.

“No fundo, o que questionamos é a própria expressão do amor: amar a si mesmo como se é, sem sofrer imposições dessa onda conservadora que está se firmando contra a sexualidade”, diz Carneiro, que assume o lado engajado de seu filme, coisa que é comum a outras obras do festival. “Acredito no cinema como um instrumento de mudança política.”

Cena do filme "Copyleft", de Rodrigo Carneiro. Créditos: Divulgação
Cena do filme “Copyleft”, de Rodrigo Carneiro. Créditos: Divulgação

Também tem um braço brasileiro o curta documental “Fuja dos Meus Olhos”, de Felipe Bragança, 35. O roteirista de “Praia do Futuro” (2014) dirige filme que retrata o universo de imigrantes africanos em uma ocupação berlinense e discute, entre outros temas, as percepções sobre o amor que eles têm.

O belga “Agora Livre”, de Pierre Liebaert, 25, trata da intimidade: modelos são designados a posar para as lentes de um fotógrafo desconhecido. Completa a programação da sessão o ” chileno “San Cristóbal”, de Omar Zúñiga Hidalgo, 30, cuja trama sobre o envolvimento entre um turista e um pescador de uma ilha no sul do país saiu premiada no Festival de Berlim.

Confira os trailers.

De “A Vida do Fósforo Não É Bolinho,  Gatinho”:

De “Copyleft”:

De “San Cristóbal”: