Fábio Porchat mergulha no drama, mas sem deixar os berros de lado
Os berros agudos estão lá, uma ou outra piadinha escatológica também. Mas “Entre Abelhas”, filme protagonizado por Fábio Porchat que estreou nesta quinta (30), não pretende ser nenhuma versão estendida dos esquetes do grupo “Porta dos Fundos”.
Ainda que não seja um dramalhão propriamente dito e que sejam vários os momentos cômicos, o que predomina no longa é o tom mais sério.
No pôster, um Porchat de olhar vazio contempla o nada. Ele interpreta Bruno, sujeito que paulatinamente perde a capacidade de enxergar as pessoas ao redor depois que se separa da mulher , vivida por Giovanna Lancellotti.
A enveredada do humorista para um terreno menos escrachado parece o caminho tomado por comediantes como Jim Carrey, que na virada dos anos 90 para os 2000 investiu em filmes mais sisudos como “O Show de Truman” e “Cine Majestic”. Mas Porchat diz que nada foi premeditado.

“Era uma história que eu já tinha na cabeça há anos, muito antes de já estar famoso na comédia. Mas acabou que só aconteceu agora”, afirma o ator ao Sem Legenda. “Não é porque cheguei a certo momento da carreira que resolvi investir no drama.”
Ele diz que para compor seu personagem se inspirou em longas como “Ela” (2013), de Spike Jonze, e “Mais Estranho que a Ficção” (2006), de Marc Foster, dois filmes que flertam com a fronteira entre o drama e a comédia e que têm um pé no absurdo.
“O personagem estava na minha cabeça, foi fácil para ele sair, não tive vasculhar nada”, conta o ator. “Mas é uma outra energia, uma outra pegada, com uma dificuldade maior, com camadas. As piadas não estão nele, é um outro tipo de dificuldade.”
No país, o filme estreou em terceiro lugar no ranking das bilheterias da semana, atrás apenas dos blockbusters “Vingadores: Era de Ultron” e “Velozes e Furiosos 7”. Em apenas quatro dias, havia abocanhado mais de 175.00 pessoas de público, segundo o portal Filme B —número bastante razoável para uma produção nacional.
Na avaliação de Sérgio Alpendre, colaborador da Folha que fez a crítica do filme, o longa “se mostra muito mais do que um veículo para Fábio Porchat”.
“É na verdade um dos raros filmes brasileiros recentes que aliam apelo comercial com inteligência”, escreveu.
O roteiro foi escrito por Porchat e por Ian SBF, diretor de “Entre Abelhas” e seu parceiro no Porta dos Fundos, há nove anos, mas a “ideia ficou adormecida nesse tempo todo”, segundo o humorista.
“Tive a ideia quando me dei conta de que as pessoas não estavam mais se enxergando”, diz. “A gente não vê os outros, mas a gente também não se enxerga, como o personagem do filme, que evita conflitos, evita procurar as razões dos seus problemas.”
Com um quê surreal, o filme também não se debruça sobre eventuais razões da tal “cegueira” do protagonista. “Deixa isso pro público. Acho que mesmo o desavisado que for ao cinema pode não morrer de rir, mas vai se surpreender.”
O filme conta no elenco com Irene Ravache (no papel da mãe do protagonista), além de Marcos Veras, Luis Lobianco e Leticia Lima —esses três, colegas de Porchat no “Porta dos Fundos”.