Diretores lamentam suspensão do Festival de Paulínia
Nesta sexta-feira (27), a Folha antecipou que a edição de 2015 do Festival de Cinema de Paulínia foi suspensa.
Também está temporariamente suspenso o edital de fomento que, no ano passado, contemplou dez filmes, incluindo o novo longa de Hector Babenco, “Meu Amigo Hindu”, e a cinebiografia de Bozo, “Vida de Palhaço”. As produções não receberam essa verba, que totalizava cerca de R$ 8 milhões.
Isso porque a prefeitura da cidade no interior paulista tem dívidas que chegam a R$ 160 milhões, segundo o prefeito José Pavan Júnior (PSB), que assumiu o posto no último dia 6, por decisão judicial.
Uma das maiores vitrines do país, o Festival de Cinema de Paulínia exibiu filmes como “O Palhaço”, de Selton Mello, “Boa Sorte”, de Carolina Jabor, e “Bróder”, de Jeferson De, e também trouxe diretores estrangeiros importantes, como Abel Ferrara na edição do ano passado.
Espécie de “Hollywood caipira”, com direito a estúdios de produção e um majestoso teatro com tapete vermelho, o polo foi criado em 2008 pelo então prefeito Edson Moura (PMDB), que em todas as edições do festival repetia o quanto ele era fruto de um sonho só dele.
Em 2012, seu sucessor no governo, Pavan Junior, cancelou o festival pela primeira vez devido a uma queda na arrecadação municipal. Eleito no fim daquele ano, Edson Moura Junior (PMDB), filho do idealizador do polo, revitalizou as atividades.
Em 2014, por exemplo, o festival teve um orçamento de R$ 3,5 milhões e premiou “A História da Eternidade” como melhor filme. Camilo Cavalcante, diretor deste longa, diz que só recebeu metade do valor do prêmio daquele ano.
O “Sem Legenda” conversou com diretores que já exibiram seus filmes em Paulínia a respeito da suspensão:
“Um festival que se propõe ser relevante não pode ter essa descontinuidade, para não passar a impressão de que tudo foi falácia, oportunismo político. Paulínia nasceu com a promessa de ser um dos maiores polos e se tornou uma das maiores vitrines do cinema nacional.”
Camilo Cavalcante, diretor de “A História da Eternidade”, vencedor de melhor filme em 2014
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“Me soa triste porque a curadoria era super séria. Havia naquele festival algo genuíno, havia consistência. E era incrível porque movimentava a cidade toda, com sessões lotadas e exibia filmes que não teriam essa visibilidade. Todos comentavam que a premiação era difícil porque eram muitos os filmes bons.”
Carolina Jabor, diretora de “Boa Sorte”, exibido na edição de 2014.
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“Lamento profundamente. É triste ver um festival que não se consolidou do ponto de vista institucional e ficou sujeito a variáveis políticas. Tinham que entender que não se trata de um festival de um governo, mas de uma cidade. É uma perda grande para o cinema brasileiro. Queria que a nova prefeitura compreendesse a importância do festival.”
Helvécio Ratton, diretor de “Pequenas Histórias”, vencedor de melhor roteiro em 2007.
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“É a cara do Brasil essa tragédia da falta de continuidade dos processos culturais. Eles construíram um polo lá que custou uma fortuna e é muito bom. O Theatro Municipal tem vários andares, com uma qualidade de som e uma projeção de primeiro mundo. Acho uma tristeza é abandonar esse investimento todo. Acho que tinha de ter intervenção do Ministério da Cultura.”
Murilo Salles, diretor de “Aprendi a Jogar com Você”, exibido em 2014.