Revista da Boca do Lixo é digitalizada

GUILHERME GENESTRETI

Na capa, os atores Nuno Leal Maia e Lenilda Leonardi dão um amasso no que parece ser a cena de alguma pornochanchada. No miolo, reportagens detalham o recém-lançado “O Matador Sexual”, filme de Tony Vieira inspirado no caso de Chico Picadinho, e “Desejo Selvagem”, produção de David Cardoso cheia de sangue e sexo rodada no Pantanal.

A revista “Cinema em Close Up”, que circulou entre 1975 e 1979 no então polo cinematográfico da Boca do Lixo, região central de São Paulo, teve todas as suas 20 edições digitalizadas e colocadas na internet.

Editada por Minami Keizi (1945-2009), jornalista e desenhista que também ajudou a divulgar o mangá no Brasil, a revista teve grande repercussão especialmente no meio em que circulou, junto aos produtores, diretores e distribuidores da região da rua do Triunfo, onde sua Redação estava instalada.

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Edição de 1979 da revista ‘Cinema em Close Up’:        Nuno Leal Maia e Lenilda Leonardi na capa

As 20 edições da “Cinema em Close Up” podem ser conferidas no site: portalbrasileirodecinema.com.br/cinemaemcloseup/

“Essa publicação deu mais dignidade aos realizadores da Boca, muitas vezes tratados como marginais”, diz o cineasta Eugenio Puppo, da Heco, produtora responsável pela digitalização do material. “O polo foi tão importante que teve até revista.”

Puppo conta que procurava reunir todos os exemplares desde 2005. Nem mesmo Minami tinha todos os números. A restauração também foi trabalhosa: várias das páginas estavam danificadas. A Heco bancou o projeto.

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Edição de 1976 da revista

Cineastas como Ozualdo Candeias (1922-2007), Fauzi Mansur e Jean Garrett (1946-1996) estavam entre os principais colaboradores da “Cinema em Close Up”, que trazia perfis de cineastas, críticas de filmes, assinadas por gente do porte de Jean-Claude Bernardet, e reportagens sobre novas produções.

Um dos números ensina a importância do roteiro, com informações didáticas para quem quer se aventurar na área: uma sequência hipotética em que um personagem suspeita da traição da namorada é dividida em sete planos.

Outro traz uma reportagem de capa que denuncia a falta de segurança de técnicos durante as filmagens, com detalhes sobre as queimaduras sofridas por um e o choque elétrico tomado por outro.

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Zé do Caixão estampa capa de 1977


Mas o grande filé das publicações são os pôsteres. Não há número da “Cinema em Close Up” que não contenha sequências de fotos com as musas da Boca. Marlene França posa só de calcinha na frente de um banheiro. Valéria D’Elia veste apenas um boá azul. Meire Vieira se estira numa cama de lençol rosa.

A Boca ainda não tem um volume de informações consideráveis para que se entenda ela em sua complexidade”, diz Puppo. “A revista tem números de produção, grafias de filmes, nomes de técnicos…”

Segundo ele, a publicação também traz uma reflexão sobre o cinema brasileiro dos dias de hoje. “Vale a pena ter acesso às informações da Boca para se entender como se conseguia fazer tanto filme e tão barato, ao contrário de hoje em dia.”

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Puppo, pesquisador de longa data da produção da Boca do Lixo, alerta para o estado de muitas das cópias de filmes realizados ali.

As notícias são estarrecedoras: de alguns não há cópias de exibição e os negativos estão deteriorados. Muito se fala em recuperar o polo; antes tinham é de recuperar os filmes.”