Escritor Fernando Morais diz que ‘subtraiu’ trailer de ‘Chatô’

GUILHERME GENESTRETI

Domingo, 17 de maio de 2o15, 18h47. O aplicativo WhatsApp alerta para uma nova mensagem.

Guilherme Fontes: “Onde você viu o trailer?”.

Repórter: “O Fernando Morais postou no Facebook”.

Guilherme Fontes: “Meu deussss. Ainda não está totalmente acabado”.

A semana começou com uma notícia importante para o cinema brasileiro: caiu na rede um vídeo com imagens do filme “Chatô”, epopeia cinematográfica que está nas mãos do diretor Guilherme Fontes há mais de 20 anos e que nunca foi lançada.

Quem postou no YouTube o vídeo (não dá para chamá-lo de trailer, já que não tem exatamente uma edição) foi o escritor Fernando Morais, autor da biografia que inspirou o longa homônimo sobre o político, empresário e jornalista Assis Chateaubriand.

“Tenho más notícias para os coleguinhas que urubuzaram o Guilherme Fontes nos últimos anos: o filme ‘Chatô, o Rei do Brasil’ está pronto”, escreveu o autor no Facebook. Ele postou o vídeo em sua própria conta no YouTube: é o único vídeo de que ele fez o upload ali, onde também há uma playlist do rapper americano Pharrell Williams.

Viralizou. Em menos de 24 horas, o vídeo já havia sido visualizado mais de 34 mil vezes, rendeu reportagens e piadinhas na rede –além do notável envelhecimento do elenco, dois de seus atores, Walmor Chagas e José Lewgoy, já morreram.

Morais contou ao “Sem Legenda” que “subtraiu” o trailer do filme sem que Guilherme Fontes soubesse.

“Ele trouxe para eu ver aquelas cenas num pendrive”, disse Morais, rindo. “Eu pus no PC e fiz uma cópia. É um vídeo bruto.”

O escritor, que recusou o convite de Fontes para ver o filme inteiro, gostou do que viu no vídeo de três minutos. “É irreverente, que tem muito a ver com a personalidade do Chatô. Ele era um sujeito ruidoso em todos os sentidos.”

 

Marco Ricca e Letícia Sabatella em cena de "Chatô: O Rei do Brasil", de Guilherme Fontes
Marco Ricca e Letícia Sabatella em cena de “Chatô: O Rei do Brasil”, de Guilherme Fontes

Quem viu o vídeo notou o tom escrachado, bem acima do tom do que se costuma ver na produção nacional. O cineasta Cacá Diegues, que viu “Chatô” ainda não finalizado há alguns anos, diz ao “Sem Legenda” que o longa “é o último filme do tropicalismo no Brasil”.

Nas imagens, algo lisérgicas, dá para ver um Chateaubriand fanfarrão, que grita, zomba e chega ameaçar o presidente Getúlio Vargas com uma peixeira.

Paulo Betti, que interpreta Vargas, aparece numa espécie de alucinação de Chatô mostrando o tiro que deu no peito. Leandra Leal, novinha, é uma espécie de miss tristonha. Letícia Sabatella canta. Andréa Beltrão faz um dos pares amorosos do protagonista, a mais ácida, por sinal. Completa o elenco principal o ator Gabriel Braga Nunes.

“Chatô: O Rei do Brasil” começou a ser rodado em 1995. De lá para cá, foi filmado em duas etapas (ambas na segunda metade dos anos 1990), mas nunca foi lançado, o que deu ao filme uma aura de lenda –e um boa dose de zombaria– no meio cinematográfico nacional.

Em novembro do ano passado, o Tribunal de Contas da União, negou um recurso do diretor e o condenou a devolver aos cofres públicos R$ 66 milhões e pagar multa de R$ 2,5 milhões sob a acusação de que ele captou recursos incentivados sem ter apresentado o resultado, ou seja, sem ter lançado o filme.

No último sábado (16), a Folha deu em primeira mão que o Ministério da Justiça havia assistido ao filme para avaliar a sua classificação indicativa. A notícia encerrou a discussão sobre a possível inexistência do filme finalizado. Até então, apenas o diretor defendia a existência do filme pronto, mas nenhum terceiro endossava o fato, o que nunca permitiu ter a certeza de que ele estava finalizado.

Nesta segunda (18), outra reportagem trouxe os principais comentários feitos pelos técnicos da pasta com as descrições das cenas.

“Chatô” ganhou classificação indicativa de impróprio para menores de 14 anos. Segundo Fontes, será lançado ainda neste semestre.

Fontes entrou com novo recurso contra a decisão do TCU e apresentou cópia do filme, enviada para a Ancine (Agência Nacional de Cinema) para saber se o filme é compatível com o projeto. O TCU voltará a se manifestar após a manifestação da Ancine.